CRÍTICA | A Descoberta das Américas

A Celebração do Homem

 

A celebração do homem
 
Tem toda a razão aquele que diz que “A descoberta das Américas” é um dos melhores espetáculos cariocas dos últimos tempos. Tendo já oito anos desde a sua estreia, a peça rodou o Brasil e cumpriu temporada no Teatro Serrador, encerrando a formidável ocupação do grupo Alfândega88 naquele espaço. A partir de texto de Dario Fo, Alessandra Vanucci assina a direção, havendo apenas Julio Adrião em cena. Não há cenário, não há trilha sonora, tudo circunda o ritual simples de um homem contando uma história. As pausas, os ritmos diversos, a prosódia são as estruturas que embasam essa narrativa. Os movimentos de corpo, as expressões faciais, os movimentos que ocupam o palco nu são as ondas pelas quais navega o público na fruição. “A descoberta das Américas” é a celebração do homem e do seu encontro com outro homem em forma e em conteúdo. Excelente. 
 
Fugindo da Inquisição em Sevilha, um homem, Johan Padan, acaba integrando a embarcação de Cristóvão Colombo rumo à América. Se, na Europa, ele era um Ninguém, entre os índios, consegue fazer-se grande. Descobre-se no contato com os povos “selvagens”, aprende que o que sabia era válido e torna o pouco que tinha de si próprio em muito para compartilhar. Salvando a própria pele de enrascadas, continua lutando pela própria sobrevivência como já o fazia na sua terra natal. O diferencial do novo lugar é que lá a relação entre passado e presente é muito mais estreita, porque há pouco significado em suas distâncias. Cheio de defeitos, Padan valoriza-se enquanto justamente um ser humano: o prazer carnal e espiritual andam juntos sem culpas. Já velho, cheio de filhos e netos, ele narra como se descobriu na América. 
 
Prêmio Shell de Melhor Ator em 2005, Julio Adrião empresta o seu carisma à construção do personagem. Por sua vez, o personagem é, ao mesmo tempo, homem e tempo, multidão e paisagem, falante e ouvinte, poesia e ação. Ao longo de 90 minutos, o ator, bem dirigido por Vannucci, consegue a façanha de entreter e fazer pensar sem deixar cair o ritmo, desafio esse que se torna grandioso quando se trata de um monólogo. O mérito é ainda maior pelo esforço em esconder todos os elementos atrás da performance (atuação). 
 
Para gostar de teatro, é preciso gostar de homens. Diferente de qualquer outra arte, no teatro, não há arte sem o artista junto dela e também sem o público junto de ambos. Porque sozinhos, e cada vez mais de mãos dadas, esses três encontram em “A descoberta das Américas” lugar ideal para celebrar a própria e tripla existência. Viva!! Bravo!! 
 

Por Rodrigo Monteiro 

Peça A Descoberta das Américas - Crítica feita em setembro de 2013

 

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